Fundos e certificações ESG: do marketing à prática real

Igor Blinov
By Igor Blinov
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Rodrigo Balassiano analisa como os fundos têm buscado alinhar certificações ESG a práticas concretas, além do discurso de marketing.

A adoção de critérios ambientais, sociais e de governança tem se tornado um diferencial competitivo no mercado de capitais, especialmente no universo dos fundos de investimento. No entanto, conforme observa Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados e sustentabilidade corporativa, ainda existe um descompasso entre o discurso e a efetiva implementação de práticas ESG. Nesse contexto, as certificações ESG surgem como instrumentos importantes para validar compromissos assumidos e garantir maior transparência perante investidores cada vez mais atentos.

Certificações ESG: mais que um selo, é o compromisso com a prática

As certificações ESG funcionam como balizadores externos da qualidade das práticas sustentáveis adotadas pelos fundos. Elas ajudam a diferenciar gestoras que de fato integram critérios ESG às suas decisões daquelas que apenas utilizam a sigla como ferramenta de marketing. Agências especializadas analisam aspectos como política de investimento responsável, governança, impactos sociais e ambientais, além de mecanismos de controle e mitigação de riscos não financeiros.

Fundos com foco ESG: Rodrigo Balassiano discute o desafio de transformar compromisso ambiental e social em ações reais e mensuráveis.
Fundos com foco ESG: Rodrigo Balassiano discute o desafio de transformar compromisso ambiental e social em ações reais e mensuráveis.

Rodrigo Balassiano destaca que o processo de certificação exige evidências concretas, como critérios de elegibilidade de ativos, mecanismos de monitoramento e prestação de contas periódica. Isso contribui para fortalecer a governança dos fundos e, ao mesmo tempo, proporciona aos cotistas maior segurança sobre a aderência das carteiras aos princípios sustentáveis.

Os principais selos e seus critérios de avaliação

No mercado brasileiro e internacional, diversos selos têm ganhado notoriedade. Entre os mais reconhecidos estão o PRI (Principles for Responsible Investment), o selo da Climate Bonds Initiative e o Selo Verde da Anbima. Cada um possui abordagens específicas, mas todos convergem no objetivo de validar que a estrutura do fundo e sua política de investimento estão alinhadas com práticas sustentáveis reais.

As certificações ESG analisam, por exemplo, a origem dos ativos da carteira, a exposição a setores sensíveis, o impacto social dos investimentos, o comportamento dos gestores frente a práticas controversas e a forma como os riscos ambientais e sociais são mensurados. Rodrigo Balassiano ressalta que a obtenção de um selo respeitado não apenas amplia a atratividade do fundo no mercado, mas também pode abrir portas para investidores institucionais com mandatos de investimento responsáveis.

Desafios para ir além do marketing no universo ESG

Apesar da crescente adesão às certificações ESG, muitos fundos ainda enfrentam dificuldades para transformar compromissos em práticas consistentes. A principal barreira está na integração real dos fatores ESG ao processo decisório — e não apenas na elaboração de relatórios ou adesão simbólica a princípios. Isso exige revisão das metodologias de análise, capacitação das equipes e desenvolvimento de ferramentas que permitam rastrear o impacto dos investimentos.

Outro ponto sensível é o risco de greenwashing — quando um fundo adota uma fachada sustentável sem, de fato, aplicar os princípios no dia a dia. Para Rodrigo Balassiano, a melhor forma de evitar essa armadilha é investir na construção de uma cultura organizacional voltada à sustentabilidade, com metas claras, indicadores mensuráveis e relatórios auditáveis.

Considerações finais

O avanço das certificações ESG representa uma evolução importante no amadurecimento do mercado financeiro, especialmente no segmento de fundos de investimento. No entanto, para que esses selos tenham valor real, é necessário que sejam acompanhados de práticas efetivas, transparentes e integradas à estratégia do fundo. Investidores exigem cada vez mais responsabilidade e coerência — e os gestores que souberem entregar essas demandas sairão na frente.

Rodrigo Balassiano conclui que, mais do que conquistar uma chancela externa, os fundos precisam demonstrar, na prática, que sua atuação contribui para um modelo de desenvolvimento econômico mais justo, inclusivo e ambientalmente equilibrado. Esse é o caminho para que as certificações ESG deixem de ser apenas um diferencial e se tornem padrão no setor.

Autor: Igor Blinov

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