A recente diretriz da Organização Mundial da Saúde sinaliza uma virada importante no enfrentamento da obesidade. Pela primeira vez, a OMS recomenda o uso de terapias com agonistas de GLP‑1 — conhecidas popularmente como canetas emagrecedoras — como parte do tratamento para adultos com obesidade, desde que acompanhadas por um programa de saúde mais amplo. Essa postura reflete o reconhecimento da obesidade como uma doença crônica que requer atenção contínua.
É importante destacar que essa recomendação não representa uma solução isolada, mas sim um componente dentro de uma abordagem mais abrangente. A OMS defende que a medicação deve ser combinada com mudanças de estilo de vida: alimentação equilibrada, atividade física e acompanhamento de profissionais de saúde. A entidade alerta para os riscos e limitações da terapia: há incertezas quanto à segurança e eficácia de longo prazo, bem como desafios relacionados à acessibilidade e equidade no acesso aos medicamentos.
Para muitas pessoas, essa novidade representa esperança. A obesidade afeta mais de um bilhão de pessoas no mundo e, em 2024, foi associada a milhões de mortes. Ao oferecer uma nova alternativa terapêutica, a diretriz busca abrir caminhos para reduzir os impactos negativos da obesidade, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e outras comorbidades.
Por outro lado, há importantes reflexões éticas e práticas envolvidas. O uso dessas terapias envolve custos elevados, o que pode tornar o acesso restrito a uma parcela da população, potencializando desigualdades. Além disso, o uso indiscriminado — sem acompanhamento médico, por exemplo — pode resultar em riscos à saúde e em resultados fora das recomendações.
Diante desse cenário, é essencial que governos, sociedades e sistemas de saúde se organizem para garantir que as terapias estejam disponíveis a quem realmente precisa — de forma segura, regulamentada e equitativa. Isso passa por regulamentação, educação pública, políticas de saúde integradas e acesso a profissionais capacitados.
Também é fundamental que o tratamento da obesidade seja entendido como um compromisso a longo prazo. A medicação pode ajudar, mas não substitui mudanças de hábitos, suporte multidisciplinar e acompanhamento contínuo. A recomendação da OMS reforça que o tratamento deve ser parte de um modelo de cuidado amplo e personalizado.
Por fim, essa mudança de paradigma pode contribuir para desestigmatizar a obesidade como mera questão estética ou de força de vontade, reforçando seu reconhecimento como condição de saúde complexa que exige abordagem séria e estruturada. A diretriz da OMS abre espaço para debates mais profundos sobre prevenção, tratamento e políticas públicas voltadas ao bem-estar coletivo.
Autor: Igor Blinov

