Falta de médicos e infraestrutura precária desafiam funcionamento das unidades básicas de saúde no Brasil

Igor Blinov
By Igor Blinov
5 Min Read

A crise estrutural que afeta a rede pública de atenção primária no país se revela cada vez mais evidente. O novo Censo das Unidades Básicas de Saúde de 2025, divulgado pelo Ministério da Saúde, mostra que a maioria das unidades básicas de saúde enfrenta problemas graves de recursos humanos e infraestrutura. Segundo os dados, mais da metade das unidades em funcionamento em todo o território nacional contam com apenas um médico responsável pelo atendimento à população, o que representa um grande desafio para o funcionamento pleno do Sistema Único de Saúde.

O retrato alarmante das unidades básicas de saúde é reforçado pelo fato de que mais de 60% delas também carecem de reformas estruturais. Isso significa que, além da escassez de profissionais, muitas dessas unidades básicas de saúde operam em condições físicas inadequadas para oferecer um serviço de qualidade. O levantamento foi feito entre junho e setembro de 2024 e envolveu mais de 44 mil unidades em todo o Brasil. A pesquisa revelou ainda que 1.724 unidades básicas de saúde sequer contam com qualquer médico em atividade, prejudicando diretamente o acesso da população a serviços essenciais.

A distribuição desigual da força de trabalho médica também chama atenção. Enquanto a maioria das unidades básicas de saúde nas regiões Nordeste e Norte operam com um único médico ou até sem nenhum, as unidades localizadas no Sudeste concentram os profissionais em maior número, com algumas estruturas contando com quatro ou mais médicos. Esse desequilíbrio acentua ainda mais as desigualdades regionais no acesso à saúde e mostra a urgência de políticas públicas voltadas à equidade.

A importância das unidades básicas de saúde para o funcionamento do SUS é indiscutível. Elas representam o primeiro nível de atendimento e são responsáveis por ações de prevenção, diagnóstico e tratamento inicial de doenças. De acordo com o censo, 88% dessas unidades contam com apenas uma equipe de Saúde da Família, composta por médico, enfermeiro e agentes comunitários. Em locais de alta demanda, esse formato se mostra insuficiente, sobrecarregando os profissionais e prejudicando a qualidade do atendimento prestado.

As unidades básicas de saúde enfrentam ainda outro obstáculo importante: a falta de equipamentos básicos. Mais da metade das UBSs avaliadas não possui oxigênio disponível, recurso essencial para emergências respiratórias e procedimentos como nebulização. Apenas uma em cada cinco realiza a inserção de DIU, o que dificulta o acesso da população feminina a métodos contraceptivos seguros e eficazes. A ausência de aparelhos de eletrocardiograma também foi registrada em diversas unidades, limitando a capacidade diagnóstica da atenção primária.

A sobrecarga das unidades básicas de saúde também tem reflexos no crescimento das filas para atendimento com especialistas no SUS. De acordo com especialistas da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a presença de médicos bem qualificados na atenção primária poderia evitar encaminhamentos desnecessários para níveis mais complexos do sistema. Médicos com formação específica em medicina de família são capazes de resolver uma grande parte dos problemas de saúde da população sem necessidade de transferências para outros serviços.

Frente ao diagnóstico preocupante, o Ministério da Saúde anunciou medidas para fortalecer a rede de unidades básicas de saúde. Entre as ações previstas, está a entrega de 135 obras de melhoria estrutural até o final de 2025, além da distribuição de 10 mil kits com equipamentos para uso nas unidades. A meta do governo é melhorar o desempenho da atenção primária como forma de aliviar os gargalos do sistema, especialmente no que diz respeito às longas filas para cirurgias e consultas especializadas.

A situação das unidades básicas de saúde no Brasil exige resposta rápida e coordenada entre as esferas federal, estadual e municipal. A ausência de médicos, a infraestrutura deficiente e a falta de equipamentos comprometem não apenas o acesso à saúde, mas a própria efetividade do SUS. Investir nas unidades básicas de saúde é uma estratégia fundamental para garantir um atendimento digno, eficiente e universal à população brasileira, fortalecendo a base do sistema que sustenta milhões de vidas todos os dias.

Autor: Igor Blinov

Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *