Nova regra do trabalho pode aumentar folha salarial e mudar cultura nas empresas

Igor Blinov
By Igor Blinov
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A atualização da NR1 promete transformar a forma como as empresas lidam com os riscos no ambiente de trabalho, especialmente os ligados à saúde mental. A norma, que estava prevista para entrar em vigor em maio de 2025, teve sua vigência adiada para o ano seguinte, mas já movimenta os bastidores do setor corporativo. Isso porque ela obriga as empresas a identificarem e eliminarem riscos psicossociais que possam prejudicar os trabalhadores. Situações como excesso de jornada, cobrança por metas irreais, falta de descanso e até assédio entram nesse novo campo de análise que poderá impactar diretamente os custos das organizações.

Essa mudança provocada pela atualização da NR1 vai muito além de uma simples obrigação legal. Ela está conectada a outras normas importantes, como a NR4, e à Classificação Nacional de Atividades Econômicas, o CNAE, que define o grau de risco da atividade exercida por cada empresa. Caso aumentem os afastamentos por causas como burnout, por exemplo, a empresa pode ter seu grau de risco elevado. Isso se reflete no chamado Fator Acidentário de Prevenção, o FAP, que influencia diretamente os encargos sobre a folha de pagamento.

A adoção da atualização da NR1 exigirá que as empresas desenvolvam políticas ativas de prevenção de riscos psicossociais. O simples conhecimento da norma não será suficiente. Será necessário criar planos de ação efetivos e aplicar pesquisas internas para detectar o clima organizacional. A falta de um modelo claro para esse processo, aliás, foi um dos fatores que levou ao adiamento da obrigatoriedade da nova regra. Muitas empresas ainda não sabem como agir e precisam de tempo para se adaptar de forma adequada.

Mesmo com a prorrogação, especialistas alertam que a atualização da NR1 deve ser encarada como uma oportunidade para promover mudanças profundas na cultura corporativa. Especialistas em direito do trabalho e saúde mental reforçam que o momento é ideal para que empresas revejam suas práticas e comecem a investir em ambientes mais seguros e saudáveis. A medida não deve ser vista apenas como uma exigência legal, mas como uma ação estratégica para reduzir afastamentos e melhorar a produtividade a longo prazo.

De acordo com juristas que acompanham a pauta, a vigência da atualização da NR1 foi adiada porque ainda não há segurança jurídica para impedir autuações caso as empresas não estejam preparadas. Mesmo com o caráter educativo inicial proposto, o Ministério do Trabalho optou por garantir um período de transição mais claro. Assim, as empresas têm até maio de 2026 para estruturar suas políticas internas, mas devem começar imediatamente o processo de adequação.

A consultora Izabella Camargo, especialista em burnout, defende que a atualização da NR1 é um marco importante para combater comportamentos tóxicos no ambiente profissional. Segundo ela, muitas atitudes que antes eram normalizadas agora passam a ser inaceitáveis. Piadas ofensivas, pressões abusivas e negligência com a saúde emocional dos colaboradores precisam ser enfrentadas com seriedade. A nova norma exige que líderes estejam preparados para atuar com inteligência emocional e responsabilidade.

Outro ponto crucial trazido pela atualização da NR1 é a necessidade de anonimato nas pesquisas aplicadas aos trabalhadores. Isso garante que os resultados reflitam o verdadeiro clima organizacional e não apenas opiniões isoladas. Com dados consistentes em mãos, as empresas poderão traçar planos de ação setorizados e atacar diretamente os focos de risco. A negligência nesse processo pode custar caro, tanto em termos financeiros quanto de reputação corporativa.

Em resumo, a atualização da NR1 representa um avanço necessário nas relações de trabalho no Brasil. Embora a prorrogação da vigência ofereça mais tempo para adaptação, o ideal é que empresas iniciem imediatamente seus processos de compliance. O futuro do ambiente de trabalho dependerá cada vez mais de estruturas organizacionais saudáveis, lideranças conscientes e políticas claras de prevenção de doenças mentais. Ignorar essa mudança poderá comprometer o desempenho empresarial em diversas frentes, inclusive na competitividade do mercado.

Autor: Igor Blinov

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